24 julho 2011

Mito - parte 1

 A psynet é um mundo que existe apenas na mente dos psiônicos da Nova Gates, neste mundo qualquer pessoa que tenha acesso a um psiônico pode registrar e compartilhar memórias, entretanto, nem todas as memórias ali registradas são verdadeiras. Nos últimos anos circulou uma história na psynet que gerou comoção devido a dúvida dela ser um mito ou não, na época em que a história original circulava ela estava registrada como uma memória de um residente de Altamira chamado Zeth Armita.
 Zeth é um renascido em Altamira, morreu na Terra no início do século 21 e foi editor de um jornal de um país do leste europeu, não se sabe quase nada a respeito de sua vida na Terra, mas em Gates ele era um ativista político em prol da democracia e liberdade de expressão, isso antes dos estranhos eventos que o fizeram virar uma lenda na psynet ocorrerem.
 Tudo começou no final de um dia de protesto, em Altamira é proibida a manifestação nas ruas de pessoas devido a supostos problemas de segurança, caso haja algum ataque externo as pessoas devem estar dentro das estruturas para garantir a sobrevivência. Apesar de terem se passado mais de dois mil anos da última invasão da cidade esta lei, dentre várias outras, continua sendo observada.
 Zeth no dia protestava contra uma evidência de que haviam assassinos agindo em nome do governo de Altamira dentro da própria cidade, assassinos esses ligados a altos postos administrativos.Como os protestos eram proibidos as pessoas se expressavam por meio de avatares holográficos que saiam para as ruas defendendo os ideais enquanto as pessoas de verdade podiam controla-los de dentro de seus cubos. Depois de um longo dia de protestos Zeth estava exausto e se preparava para dormir quando percebeu que estava acompanhando, dentro de sua casa.
 Uma figura feminina misteriosa estava ali na sua frente, Zeth olhava direto para sua face mas suas memórias não pareciam registrar seu rosto, apenas seus olhos amarelados, Zeth entrou em pânico, acostumado a interagir com pessoas remotamente por décadas jamais pensara que poderia ter sua casa invadida, ainda mais naquela situação, o pânico crescia ainda mais quanto frustado percebia que todas as opções de segurança de sua casa haviam sido desabilitadas, ele estava a merce da morte, mas a figura apenas o observou sem responder às indagações de Zeth por muito tempo, depois da euforia passar finalmente a figura falou:
 - Você não vai morrer hoje Zeth...
 - Pelo visto você já teria acabado comigo... A quanto tempo você esta aqui dentro me observando?
 - O dia todo...
 - OK, já entendi, vocês querem que ei fique quieto...
 - Eu gostaria que você ficasse quieto somente agora, escute antes o que eu tenho para falar, meu nome é... Acho que você já imagina o que eu faço, vou direto ao assunto, eu tenho esse material aqui, quero que você assista e divulgue, eu sugiro publicar na psynet depois, mas você que decide (a figura entrega um cartão de memória a Zeth).
 - Certo (Zeth segura o cartão, suas mãos ainda tremendo).
 - Isso ai é um registro do meu comlink, devo sumir amanhã ou depois, se você não quiser sumir também sugiro usar a psynet e destruir o cartão.
 - Sumir? Vão te matar?
 - Provavelmente...
 - Então porque você esta fazendo isso?
 - Vingança.
 - Eu não mato pessoas...
 - Eu já estou morta...
 - Sei.
 - Bom, ai dentro tem o registro direto da última das minhas ações, no final tem um contato para um psiônico confiável, e os créditos para paga-lo.
 - Antes de eu ver esse negócio aqui eu gostaria de saber porque eu, digo, eu já tive evidências bem mais palpáveis que um vídeo de uma maluca que invadiu minha casa e de uma maneira ou de outra eles acabaram jogando panos quentes em tudo...
 - Pois é, eu sei disso, eu conheci você em um dos meus trabalhos por acaso, das pessoas que conheço você sera o mais útil, porque você não me conhecia antes, e por alguns outros fatores...
 - Mas vai acontecer o mesmo de sempre, porque seria diferente? Em alguns dias vão arrumar alguma desculpa e existe a chance de mandarem um de seus colegas atras de mim...
 - Sim, talvez mandem, você que sabe...
 - Mas porque seria diferente?
 - Eu não quero que todos acreditem, basta que uma pessoa saiba que isso vazou... Você decide o que vai fazer, eu vou indo, adeus.
 Nisso a figura parece atravessar a parece envolta em sombras, junto com ela Zeth percebe mais uma presença, uma sombra enorme, que se curva no teto para caber dentro da sala, fina, com uma face alongada e olhos negros enormes, parte dos cabelos brancos pálidos podem ser vistos saindo de um manto feito de sombras, Zeth grita algum nome, e escuta pela última vez a voz da mulher:
 - Não se preocupe Zeth, ele está comigo...
 E nisso Zeth é deixado sozinho de novo com seu cubo.

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